Como surgiu o termo Desenvolvimento Sustentável?
Para melhor explicar o conceito de desenvolvimento sustentável, reproduzimos artigo de Inara de Pinho, publicado em 27/02/2019 por IbiJus - Instituto Brasileiro de Direito,
O artigo está disponível em Jusbrasil.
O termo sustentabilidade surgiu, pela primeira vez, na Alemanha, em
1560, na Província da Saxônia, a partir da preocupação em relação ao uso
racional das florestas, de forma que elas pudessem se regenerar e se
manter permanentemente. Neste contexto, surgiu a palavra alemã Nachaltingkeit que traduzida significa “sustentabilidade” (BOFF, 2012, p.32).
Mas,
somente em 1713, na Saxônia, que a palavra “sustentabilidade” se
transformou em conceito estratégico, com o Capitão Hans Carl Von
Carlowitz. Conforme leciona, Boff (2012), os fornos destinados à
mineração, naquela época, demandavam muito carvão vegetal. Florestas
eram abatidas para atender esta nova frente do progresso. Foi então que
Carlowitz escreveu um verdadeiro tratado na língua científica da época, o
latim, sobre a sustentabilidade (nachaltigwirtsghaften:
organizar de forma sustentável) das florestas com o título Silvicultura
econômica, o qual propunha o uso sustentável da madeira. A partir dessa
consciência os poderes locais começaram a incentivar o replantio das
árvores nas regiões desflorestadas.
A preocupação com a
sustentabilidade (Nachaltigkeit) das florestas foi tão forte que uma
ciência nova foi criada: a silvicultura (Forstwissenschaft). Na Saxônia e
na Prússia fundaram-se academias de silvicultura, para onde acorriam
estudantes de toda a Europa, da Escandinávia, dos Estados Unidos e até
da Índia, segundo Boff (2012). Esse conceito se manteve vivo nos
círculos ligados à silvicultura e fez-se ouvir em 1970, quando foi
criado o Clube de Roma, cujo primeiro relatório foi sobre “Os limites do
crescimento” que originou muitas discussões nos meios científicos, nas
empresas e na sociedade.
Com efeito, nesse final do Estado Social
(pós II Guerra) a noção de sustentabilidade deslocou-se da premissa de
“um bem para si” (sustentabilidade para a agricultura) para um “bem em
si” (antropocentrismo mitigado).
Apresenta-se uma breve
cronologia de importantes conferências, encontros e acordos
internacionais que contribuíram para consolidar o termo desenvolvimento
sustentável, conforme descrito por Vidigal (2016), a saber:
A ONU
passou a ocupar-se do tema e realizou, em julho de 1972, a “Primeira
Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente”, em Estocolmo. Os
resultados não foram significativos, mas seu melhor fruto foi a decisão
de criar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A
outra importante conferência realizou-se em 1984 dando origem à
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo lema era
“Uma agenda global para a mudança”. Os trabalhos dessa comissão,
composta por dezenas de especialistas, encerraram-se em 1987 com o
relatório da Primeira-ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland com o
título “Nosso futuro comum” (chamado também simplesmente de Relatório
Brundtland).
Aí aparece a expressão “desenvolvimento sustentável”
definido como “aquele que atende às necessidades das gerações atuais
sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas
necessidades e aspirações”. Esta definição se tornou clássica e se impôs
em quase toda a literatura a respeito do tema.
Em 1992 foi
realizada a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, visando dar continuidade
às discussões. Produziram-se vários documentos, dentre eles a Agenda 21,
a Carta do Rio de Janeiro e a Convenção Quadro sobre Mudanças
Climáticas, na qual estabeleceram um critério ético-político no sentido
de que os “Estados devem cooperar, em um espírito de parceria global,
para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade dos
ecossistemas terrestres; face às distintas contribuições para a
degradação ambiental global, os Estados têm responsabilidades comuns,
porém diferenciadas”.
Em 1997, a Cúpula da Terra sobre a
sustentabilidade e o desenvolvimento se reuniu novamente no Rio de
Janeiro (Rio + 5) e em 2002 (Rio + 10) em Joanesburgo.
Em junho
de 2012, foi realizada a mais recente Conferência das Nações Unidas para
o Meio Ambiente, denominada Rio+20, cujos temas-chave foram
sustentabilidade, economia verde e governança global do ambiente. A meta
primordial da Rio+20 era estimular a ação sobre desenvolvimento
sustentável.
Como resultados, destaca-se a elaboração de um
documento final com 53 páginas, no qual 188 países traçaram o caminho
para a cooperação internacional sobre desenvolvimento sustentável,
reafirmando compromissos já assumidos anteriormente. Além disso,
governos, empreendedores e outros parceiros da sociedade civil
registraram mais de 700 compromissos com ações concretas para responder a
necessidades específicas, como energia sustentável e transporte. Dentre
esses compromissos está a destinação de50 bilhões de dólares para
ajudar um bilhão de pessoas a ter acesso a energia sustentável.
Importante
ressaltar, ainda, que inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio (ODM) para promover ações de desenvolvimento humano e combate à
pobreza, os países, na Rio+20, concordaram com a necessidade de
estabelecer alguns objetivos de desenvolvimento sustentável, definidos
como ações orientadas, concisas e de fácil compreensão, de natureza
global e universalmente aplicáveis a todos os países, dentre os quais se
insere a economia verde. Os ODS, como ficaram conhecidos, foram
estabelecidos ao longo de dois anos (2013-2014) com empenho nas áreas
prioritárias do desenvolvimento sustentável, ajudando a medir o
progresso. O processo para estabelecer esses objetivos foi integrado com
esforços para repetir o sucesso alcançado pelos ODM e criar estratégias
para o caminho a seguir. Um painel foi nomeado pelo Secretário-Geral da
ONU para considerar opções para depois de 2015, ano término dos ODM,
assim como a Assembleia Geral da ONU estabeleceu um painel
intergovernamental de 30 membros para desenvolver os ODS.
Em que
pese a frustração sobre os resultados concretos das últimas
conferências da ONU, pode-se afirmar que o saldo foi positivo no sentido
de que proporcionou uma maior consciência da população mundial sobre a
necessidade persistir na busca pelo equilíbrio ambiental para assegurar a
existência humana.
Posteriormente, em 2015, foi realizada a
Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável e aprovada, por
unanimidade pelos países-membros da organização, a Agenda 2030 e os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [1] (ODS).
No mesmo ano,
duas conferências internacionais também marcaram o processo de
discussão para a implementação dos ODS: Conferência das Partes (COP21),
com a aprovação do Acordo de Paris para reduzir o aumento da temperatura
global do planeta, e a III Conferência Internacional para o
Desenvolvimento, em Adis Abeba, Etiópia, que estabeleceu fluxos de
financiamento para políticas com prioridades econômicas, sociais e
ambientais.
Os ODS substituem os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio e são um compromisso para finalizar o trabalho iniciado pelos
ODM e abordar os problemas globais mais urgentes. Os 17 Objetivos são
interligados, o que significa que o êxito de um Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável afeta diretamente outro Objetivo. Combater
os efeitos adversos da mudança do clima influencia diretamente na forma
que gerenciamos nossos recursos naturais. Fomentar a paz e sociedades
inclusivas reduzirá as desigualdades e contribuirá para que as economias
prosperem. A Agenda 2030 e os ODS são um compromisso ousado, tendo em
vista o desafio do seu cumprimento, mas também, correspondem à uma
importante oportunidade de mudança em benefício de nós mesmos (atual e
futuras gerações).
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é – o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Objetivos de desenvolvimento sustentável. Disponível em < http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/sustainable-development-goals.html>;
VIDIGAL, Inara de Pinho Nascimento. Certificação e governança ambiental corporativa: instrumentos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.
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